Educação: o sangue da humanidade – Texto de uma aluna da rede pública estadual

        “O educador diz: ‘Veja! ‘. E ao falar, aponta. O aluno olha e vê o que nunca viu. O seu mundo se expande.”

 

Esta frase é do psicanalista, teólogo, educador e escritor brasileiro Rubem Alves. “Ensinar” é descrito por Alves como um ato de alegria, um ofício que deve ser exercido com paixão e arte. É como a vida de um palhaço que entra no picadeiro todos os dias com a missão renovada de divertir. Ensinar é fazer aquele momento único e especial.

 

Bem… Se não tivéssemos os professores, educadores, pedagogos seríamos seres patéticos sem utilidade alguma. Se não fosse por nossos mestres não teríamos criado máquinas, fórmulas, tecnologias e outras modernidades. Somos seres com uma capacidade de raciocínio inigualável e todo o conhecimento que temos hoje se deve a alguém que um dia aprendeu algo e ensinou aos demais.

 

A Educação é o sangue da humanidade.

Não existe profissão mais importante que a do professor, por que ele forma pessoas que exercem desde a menos valorizada profissão no mercado até as mais bem remuneradas e até mesmo para ser professor você precisa aprender com outro professor. Infelizmente – e assustadoramente – a profissão das profissões é a mais desvalorizada pelos nossos governantes.

 

Em 2011 vimos uma grande manifestação em Santa Catarina. Professores de todo o estado saíram às ruas armados com apitos e narizes de palhaços exigindo de nosso atual governador Raimundo Colombo que cumprisse a lei. Os professores lutaram por um reajuste salarial que fosse justo para todos, respeitando o piso Nacional estipulado pela Presidência da República.

 

Professores de todo o país investem altos valores em seus cursos de graduação, especializações e alguns até mestrado, no entanto o que eles ganham depois de tanto esforço são péssimas condições de trabalho e um salário desproporcional à todo o investimento feito durante toda sua preparação.

 

Não é admissível que nossos educadores e construtores do futuro tenham que custear valores tão altos para poder oferecer um ensino de qualidade e, ao mesmo tempo, sejam desvalorizados por um sistema que remunera as pessoas de forma injusta e desigual.

 

Um dos milhares de exemplos que temos da desvalorização dessa profissão digna de total respeito é feito de uma comparação entre a profissão de professor e nossos queridos políticos:

 

Se eu quiser ser professora não posso.  Antes preciso de diploma, obtido depois de 3 à 5 anos de estudo, preciso investir uma quantidade de dinheiro considerável, preciso me dedicar horas e horas, estudar para provas, concursos, etc.

 

Mas se eu quiser ser vereadora, deputada, senadora ou presidenta da República não preciso. Ninguém me pede certificados, notas, exames.

 

Se eu quiser ser professora terei que me contentar com salas sujas e cheirando a mofo, terei que me prevenir contra várias doenças que podem ser transmitidas pelo contato oral entre aluno-professor. Terei que me contentar com salários desqualificados e ser vítima de uma política que protege interesses pessoais de pessoas que assumem posicionamentos político-partidários. O professor se obriga a trabalhar horas infindas, abrindo mão de sua liberdade de expressão, limitando seu tempo de leitura e pesquisa, limitando seu tempo de preparo de aulas, limitando seu descanso – até mesmo nos finais de semana – por vezes, privando-se da própria família, não conseguindo ter a qualidade de vida que merece, precisando, talvez, se afastar do serviço para tratar de doenças como estresse, ansiedade ou até mesmo depressão. Tudo isso para poder sobreviver e garantir seu sustento.

 

Agora se eu quiser ser “dazelite”, “otoridade”, “daspulítica”. Terei um pagamento de tantos mil a tantos milhões de reais – dependendo de quanto desviar da Educação, da Saúde, da Infraestrutura, etc… – Não precisarei nem sequer ter uma linguagem formal para dialogar com o povo que me elege. Nem noção de política, nem anos e anos estudando, nem rios de dinheiro investidos. A única coisa que eu preciso é de uma cara de pau e um conformismo de ferro.

 

O resultado é esse deprimente espetáculo a que assistimos, protagonizado por atores que elegemos. Vários deles fazendo declarações absurdas, tomando atitudes paradoxais, assassinando os valores morais e praticando a política desonesta e corrupta a qual estamos acostumados.

 

A greve ocorrida em 2011 causou prejuízos na Educação Estadual, já que várias escolas paralisaram as atividades durante vários meses. Jamais teríamos assistido a isso se nossos governantes tivessem cumprido o prometido. O processo foi lento e até hoje está engatinhando. Na época o governador Raimundo Colombo alegou não ter caixa para pagar um aumento que deveria ser de aproximadamente 98% de impacto na folha do magistério e isso não seria suportado pelo Estado. Será?

 

Os professores disseram “chega” aos investimentos que nada acrescentavam à Educação. Disseram chega aos gastos com agrados e datas festivas. Chega às construções nas escolas com valores superfaturados. Chega aos tantos cargos comissionados nos setores públicos. Chega à opressão! Chega! Chega! Chega! O governo precisava investir naquilo que realmente fazia a diferença: formação e remuneração de nossos professores.

 

Depois de muitas brigas, manifestos, greves algumas coisas melhoraram…

 

E então lá vem o governo novamente açoitando a Educação.

 

Uma ordem vinda da Secretaria Estadual de Educação onde o Gerente de Educação da SDR deveria formar salas com:

– 30 alunos do 1º o 5º ano séries iniciais;

– 35 alunos do 6º ao 9º séries finais; e

– 40 alunos as turmas de ensino médio.

 

Ou seja, no dia 30 de abril eu chegarei à escola e verei minha minúscula sala com 40 alunos, como se isso fosse realmente possível. Nossas salas, em sua maioria, não tem estrutura para que esse tanto de alunos possa usufruí-la. Caso isso aconteça, várias salas serão reorganizadas de uma forma inadmissível.

 

Esta norma está prevista no Artigo 82 Inciso VII da Lei Complementar nº 170, de 07 de agosto de 1998 de SC. Porém, esta lei desconsidera o direito do aluno com relação ao espaço conforme prevê o Artigo 67 Inciso VI da mesma Lei, onde cada aluno em sala tem direito a 1,3m², o professor  2,5 m² e excluindo as áreas de circulação da sala.

 

Os prédios das escolas públicas de Taió são antigos e em sua maioria possuem 6 metros de largura por 8 metros de comprimento, perfazendo um total de 48m², suportando em média de 22 alunos por sala, número este referente à nossa realidade e perante a Lei.

 

Estou cursando o 3 ano do Ensino Médio. Tenho vários sonhos e objetivos para o futuro e não sou a única. Meus colegas e eu merecemos e temos direito a um ambiente com qualidade e professores qualificados para que possamos aprender e nos tornarmos cidadãos que possam fazer alguma diferença futuramente.

 

Não quero ter meu último ano de estudo estraçalhado por essa Lei. E meus professores e colegas também não querem.

 

E eu pergunto: Qual o propósito de se fazer isso? Melhorar a Educação?

 

Salas lotadas. Professores perdendo seus empregos, perdendo aulas e até um salário mínimo do seu ganho mensal. Incomodação. Alunos encolhidos dentro das salas. Trocas de turnos, turmas ou como no caso de Taió: trocas de escola. Isso é melhorar? Imagine se fosse para piorar então.

 

E para onde vai esse dinheiro que será tirado da Educação? Para as escolas? Para construir bibliotecas e institutos de cultura? Para a infraestrutura de Santa Catarina? Para o saneamento, a saúde, as rodovias? Turismo, cultura, entretenimento? Penso que não e sabemos muito bem onde esses milhões retirados dos professores vão parar.

 

Não podemos ficar parados, de braços cruzados esperando que isso aconteça. E eu, em nome de todos os estudantes de Taió, peço que pais, alunos e sociedade em geral nos ajudem. Não sejamos conformistas e marionetes nas mãos de nossos governantes! Em nome da Democracia, unamo-nos todos nós! Lutemos por nossa dignidade e por valorização de nossos mentores.

 

É pelas promessas que nos iludem que desalmados têm subido ao poder. Mas só prometem, não cumprem. Reparem que eles utilizam sempre o verbo no infinitivo: “Elaborar”, “ajudar”, “melhorar”… Dificilmente ouvimos: “elaboramos”, “ajudamos”, “melhoramos”. Não cumprem o que prometem. Jamais cumprirão. Lutemos agora para que nós jovens tenhamos qualidade de ensino e possamos continuar sonhando e lutando por um Brasil e um mundo melhor.

 

 Pra finalizar recorro novamente à Rubem Alves:

                “Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas”.

 

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.

 

Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado”.

 

 

Autoria de Luiza Maria Cunha

Aluna da E.E.B. Luiz Bertoli – Taió – SC – 16 anos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima