Coletivos LGBTI e de Combate ao Racismo se reúnem no SINTE/SC

No último dia 07/05, os Coletivos Estaduais LGBTI e de Combate ao Racismo do SINTE/SC, estiveram reunidos na sede estadual da entidade para discutir as diversas pautas dessas populações, com o foco na educação, de como trabalhar os temas nas escolas com estudantes e professores. Participaram trabalhadores/as em educação de várias regionais do Estado.

A organização do evento ficou a cargo do Secretário Geral do SINTE Sandro Luiz Cifuentes, da Secretária de Políticas Sociais e de Gênero Sandra Tolfo e do Secretário de Organização Sul Michel Flor.

A fala da direção da entidade na abertura remete a frase “ninguém solta a mão de ninguém” e atenta para a onda violenta que vivemos no país, destacando que quem não se encontra em um tipo específico de grupo social, precisa ter o sentimento de defesa de todos/as, na forma do respeito, solidariedade e humanidade, para que cheguemos a isso, o debate nas escolas é fundamental.

O professor Márcio de Souza, ex Vereador em Florianópolis e ativista da luta da população negra abriu as palestras ressaltando que mulheres e negros deveriam ser questões estratégicas para o Brasil, visto que, são a maior parte dos trabalhadores deste país, ao contrário do que se coloca, que fazem parte de minorias. Ele argumenta que esse tipo de fala parte através da construção histórica ‘eurocentrista’, que ainda verte dentro das escolas. Ele afirma que precisamos ter a tarefa de ir para a luta política, e fazer valer a lei 10639/03.

A Lei estabelece diretrizes e bases para a educação nacional, e ressalta a importância do ensino da cultura negra nas escolas, espaço onde o negro sempre foi apontado nas aulas de História como escravo. Nunca é demais esclarecer que o negro africano trazido à força para o Brasil e seus descendentes não eram escravos como uma condição natural, submissa, mas sim escravizados. Marcio observou que admitir a história do povo negro, a colocando nas práticas pedagógicas nas diferentes esferas de ensino, é uma afronta ao Estado burguês, aos clãs e aos antidemocráticos que governam o país.

Lenilso Luis da Silva, Ativista de Direitos Humanos e LGBT, também palestrante no encontro, afirmou que a atual conjuntura é terrível para a agenda dos direitos humanos, que está ocorrendo um grande desmonte estrutural, como a destituição dos Conselhos, tudo com intervenção direta do governo. Ele lembra a onda de fake News sobre ideologia de gênero que acabou influenciando diretamente nos Planos Nacional e Estaduais de Educação, onde a palavra gênero foi retirada, dificultando o importante debate do tema na educação brasileira. Lenilso alertou que a escola pode ser um lugar perverso para LGBTIs, onde muitos alunos são violentados de várias formas, por colegas e por professores, muitas vezes por falta de formação. “Precisamos nos apropriar dos instrumentos de luta e argumentação, a escola não pode se calar diante da lgbtifobia, o silêncio gera o xingamento, que pode passar ao espancamento e por fim ao suicídio deste estudante”, ressaltou. O assunto tem que estar na grade de formação dos profissionais da educação, para a construção de uma escola humanizada, ainda que estejamos vivendo um momento fundamentalista que persegue professores que tratem da pauta em sala de aula, temos que enfrentar com postura e ética profissional.

O Pedagogo e Secretário Executivo da Mulher Trabalhadora e dos Direitos LGBTIs da APP Sindicato, Clau Lopes disse que trabalhar a pluralidade na escola é praticar a cidadania. Clau lembra que estamos debatendo a lgbtifobia desde 1990, quando em 17 de maio, o termo "homossexualismo" deixou de figurar na lista de doenças da OMS (Organização Mundial de Saúde). Tivemos avanços nos últimos 10 anos, quando estava a frente um governo progressista, agora estamos tendo um grande retrocesso por conta do conservadorismo.

“O mote esse ano é abordar as famílias, dialogar com pais e mães de LGBTIs, para que entendam que qualquer acolhimento, um abraço, uma conversa, certamente fará toda a diferença, pois a cada 19 horas 1 LGBTI é assassinado e a cada 20 horas um comente suicídio, é muito grave”. Ele ressalta ainda que nas escolas está ocorrendo onda de mutilações de corpos, pois ao não conseguirem se expressar, serem livres e respeitados esses estudantes se cortam. A escola não pode ser um lugar de medo.

Após as palestras cada coletivo realizou a sua reunião estratégica e na parte da tarde o Cine Debate trouxe os documentários:

Toque de Melanina: Uma reflexão sobre o genocídio da população negra no Brasil e o sistema de ensino da rede pública do estado de Santa Catarina. Com depoimentos de professores, gestores, alunos e comunidade acerca das práticas educacionais do Grupo de Estudos Étnico-Raciais Toque de Melanina, que atuou na implementação da Lei 10.639, na E.E.B Aderbal Ramos da Silva, em Florianópolis.

Depois do Fervo: O documentário investiga o contraste entre a imagem de cidade aberta à diversidade e a realidade da população de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT) de Florianópolis, uma das capitais brasileiras mais conhecidas pela boa acolhida às minorias sexuais. A história é narrada a partir das vivências e perspectivas dos próprios LGBTs para que eles compartilhem experiências e visões sobre sua relação com a cidade, seus habitantes e questionem a ideia de que a capital catarinense é um paraíso gay-friendly.

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